25 septiembre, 2010

Mulatas de CARYBÉ

"Foi a sopa no mel. Nunca mais fui embora. A Bahia tem tudo que um pintor procura, luz, água, mar aberto, a gente sempre vê o corpo humano funcionando".

A escolha por gravuras do pintor, gravador, desenhista, ceramista, escultor, muralista Hector Julio Páride Bernabó (Lanús Argentina 1911 - Salvador BA 1997) para a atividade proposta de Arte-postal não foi ao acaso. Apreciadora dos trabalhos de Carybé - nome de peixe que recebeu como apelido e que o artista usou como alcunha no lugar do seu nome de batismo, foi porque, além de sua vasta produção (fez cinco mil trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços), Ilustrou um dos romances que constam na lista dos livros que todos devem ler antes de morrer: Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez. A releitura aqui apresentada de duas obras de sua vasta produção artística trata-se de uma singela homenagem a tão grandioso artista.

Carybé era obá de Xangô, posto honorífico do candomblé. Morreu do coração durante uma sessão num terreiro de candomblé. Carybé, tinha 86 anos e estava terminando novas telas. Não podia mais subir escadas, proibido pelo seu médico e mesmo assim, insistia em continuar produzindo. Desenhista brilhante, pertence à mais depurada crônica visual da Bahia, que tanto pode ser vista nos desenhos que criou para os livros de Jorge Amado quanto na vasta galeria de tipos de deuses do candomblé. Amante da vida era tocador de pandeiro, bom dançarino e contador de histórias. "Sou amoroso e devoto da religiosidade afro-brasileira, de seus deuses modestos e humanos, que hoje se defrontam com estes deuses contemporâneos, terríveis e vorazes, que são a tecnologia e a ciência”.

Segundo o amigo, o escritor Jorge Amado, Carybé foi como um observador de dentro, envolvido com a religião, que ele se dispôs a retratar. "outros podem reunir dados frios e secos, violentar o segredo com as máquinas fotográficas e, com os gravadores e fazer em torno dele maior ou menor sensacionalismo, a serviço dos racismos diversos, mas apenas Carybé e ninguém mais poderia preservar os valores da religião da Bahia".

A porção mais grandiosa de seu trabalho é justamente o desenho, a aquarela e o nanquim. De maneira nervosa e moderna, com poucos golpes de pincel, ele era capaz de resumir a forma de baianas prostradas de joelhos como magníficos círculos coloridos. Achava falta de respeito. Guardava tudo de cabeça e desenvolveu uma memória visual fora do comum. Dono de uma obra vasta, na qual se estimam cerca de 5.000 trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços, Carybé trabalhou com vários materiais. Gostava de pintar, mas não de ficar expondo: "Emoldurar quadros, fazer catálogos, dar entrevistas, essas coisas aborrecidas". Para ele, a única coisa insuportável na vida era ficar parado, esperando um estalo de criatividade. "Inspiração é besteira", achava.