20 septiembre, 2009

Hiperdrama

Hiperdrama – dramaturgia e pós-modernidade nas mídias digitais

Maria Cláudia de Oliveira

Universidade do Rio de Janeiro


O objetivo do trabalho de Maria Claúdia de Oliveira é analisar as características e potencialidades comunicativas do hiperdrama como um novo formato de narrativa dramática e audiovisual desenvolvido pelas mídias digitais. O nosso é corresponder as solicitações da disciplina Tecnologias Contemporâneas na Escola, publicar os trabalhos em blogs de acesso público e desta forma contribuir para a difusão do conhecimento na rede mundial de computadores.

Situando-nos que no debate acadêmico, as transformações provocadas pelo advento das novas tecnologias midiáticas tem sido exaustivamente estudado, a autora propõem avaliarmos a criação de produtos culturais voltados as sociedade globalizada como desafio para teóricos, artistas, produtores, profissionais do mercado de entretenimento e cultura de massa uma vez que o complexo relacionamento entre culturas locais e transnacionais, as infinitas possibilidades criativas que surgem por meio da velocidade do deslocamento de informações, as dificuldades em relação a tradutibilidade cultural de obras e as novas formas que esses produtos culturais podem assumir em pleno mundo globalizado, estão na pauta do dia.

Diante disso e das percepções da autora diante da quantidade de novos recursos midiáticos disponíveis sugerem um novo formato de narrativa dramática que utiliza as tecnologias de comunicação digital e todas as possibilidades de interação, fragmentação da narrativa, simultaneidade de ações e descentralização da figura do ator, o Hiperdrama segue o hipertexto e a hipermídia como condutores e de duas importantes representações dramáticas: o melodrama e o cinema. A hipótese levantada é a defesa de que o hiperdrama seria a representação pós-moderna da dramaturgia audivisual.


O hiperdrama, como narrativa dramática audiovisual, só é passível de ser executada em mídias digitais cuja estrutura se baseia nos conceitos de hipertexto e hipermídia. Sobre a origem do hipertexto, a autora remonta o surgimento do Memex cuja proposta do cientista Vannnevar Bush (1890-1974) era complementar a memória humana criando um meio de organizar informações por meio do processo da associação o que mais tarde, com Theodore Nelson, viria a ser o que hoje conhecemos como links. Já com o filósofo Pierre Lévy, o hipertexto como um conjunto de nós, tem seis características que nos auxiliam a pensar o hiperdrama. A primeira delas é a metamorfose uma vez que a rede está em constante construção e estruturação; heterogeneidade pois nele encontram-se imagens, sons, palavras, sensações; multiplicidade já que o hipertexto se organiza em um modo “fractal”; exterioridade pois a rede não possui unidade orgânica, nem motor interno; topologia em que tudo funciona por proximidade e mobilidade dos centros.

Muito próximo da cognição humana como afirmam alguns teóricos, o hipertexto e, assim defende a autora, o hiperdrama tem seu funcionamento muito semelhante a mente humana, indo e vindo em direções aleatórias, misturando passado, presente e futuro, realizando conexões entre idéias e pensamentos que não possuem, aparentemente, ligação entre si. Quanto a hipermídia que aproveita a arquitetura não linear das memórias de computador para viabilizar obras em terceira dimensão, dotadas de uma estrutura dinêmica que as torne manipuláveis inteirativamente.


As características de fragmentação e descentralização presentes nos dois conceitos nos remete ao conceito de pós-modernidade que, de acordo com François Lyotard, é “o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos das ciências, da literatura e das artes a partir do século XIX”. Transformações que posterior a década de 60, romperam e ultrapassaram fronteiras culturais e socioeconômicas. David Harvey coloca a heterogenidade e a diferença como “forças libertadoras” na definição do discurso cultural e assim como a fragmentação, a indeterminação e a intensa desconfiança de todos os discursos universais são o arco do pensamento pós-moderno. “ A nossa linguagem pode ser vista como uma cidade antiga: um labirinto de ruelas e pracinhas, de velhas e novas casas, e de casas com acréscimos de diferentes períodos; e tudo isso cercado por uma multiplicidade de burgos com ruas regulares retas e casas uniformes”. Essa representação da antiga cidade européia como metáfora dapós-modernidade poderia ser comparada, segundo a autora, as favelas brasileiras como retratos nacionais de uma lógica excludente da globalização e do capitalismo tardio. A hipermídia reproduz essa estrutura do labirinto e, ao contrário do que imaginavam os gregos em relação ao labirinto cretense não como uma prisão mas como avançar sem se perder já que o labiritno existia para ser percorrido.

Seguindo a lógica do labirinto, o hiperdrama seria então um labirinto de dramas, um emaranhado de histórias, uma teia de ações construídas em rede de mídia digital, na qual o navegador pode entrar e sair, interagindo com as ações discorridas por aquele que se passou a chamar primeiro autor. Isso porque o hiperdrama não comporta apenas um autor, mas uma multiplicidade deles, tantos quanto desejem entrar na história, ou seja, todos co-autores da narrativa dramática. Se, de acordo com Arlindo Machado, o texto é sempre a atualização de uma infinidade de escolhas num repertório de alternativas eliminadas na versão final da obra, o autor, sofrendo fogo cerrado dos críticos imaginários que o atormentam, faz com que haja uma profusão de possibilidades com inúmeras soluções diferenciadas.

O texto hiperdramático permite que o receptor tenha a oportunidade de conhecer todas as possibilidades do desenrolar imaginadas pelo primeiro autor o que, numa narrativa tradicional, vai sendo refutada na medida em que se desenvolve. No hiperdrama, as subjetividades entram num sistema de troca cultural jamais realizado antes e essa junção homem e máquina, no campo das subjetividades e do que Felix Gattrari chama de “sistemas maquínicos”, nos leva ainda a uma nova forma de produção cultural que está em andamento na sociedade. A máquina então coloca artista e público em uma interação instantânea tornando possível ao público associar-se diretamente à produção da obra e acelerando a produção de significados. O computador permite efetivamente a interação entre artista e público e além disso, uma associação não só a produção, mas também a difusão da obra o que, para Lev Manovich, suspende um dos fatores mais sedutores da narrativa dramática audiovisual: a ilusão. Sem a máquina não há obra, artista, autor e receptor. Também, o hiperdrama pode ser comparado a uma representação arquitetônica como “hiperespaço pós-moderno” e como labirinto, o navegador pode entrar não somente no inicio da narrativa, ou sair no final pois comporta várias ações simultâneas distintas e que por sua vez, lea a outras ações sucessivas.

Assim, as narrativas hiperdramáticas formam uma teia intrincada , “uma bifurcação no tempo e não no espaço”. Aqui outra característica é evocada: a da modernidade tardia em que o rompimento em relação ao tempo-espaço como coloca Antony Giddens, próprio da modernidade, deriva da separação do tempo e do espaço e de sua recombinação em formas que permitem o que ele chama de zoneamento tempo-espacial da vida social. Outro conceito que auxilia na compreensão do hiperdrama é o de heterotopia que, de acordo com Michel Foucault, designa a existência, num espaço impossível, de um grande número de mundo possíveis fragmentados. Os espaços incomensuráveis que são justapostos e superpostos uns aos outros, faz com que os personagens sejam impelidos a perguntar que mundo é esse, o que se deve fazer dele e qual dos eus deve fazê-lo.

A autora ainda nos posiciona que um dos produtos culturais que mais se aproximam do hiperdrama são os videogames que possuem recursos interativos semelhantes em que o receptor não é mais passivo e nem tampouco observador externo, mas o próprio condutor da narrativa. Já a autoria, uma vez que o hiperdrama é uma arte coletiva e a obra só existe e tem sentido se houver interatividade. Antes, ao ler uma história ou uma linha de um poema, pensavámos em imagens e memórias. A mídia interativa, defende Manovich, nos pede para clicar numa frase em destaque para alcançar outras e assim somos convocados a seguir associações pré-programadas. Acontece que somos convidados a nos identificar com a estrutura mental de outra pessoa e o fato reside não no aniquilamento da imposição de subjetividades, mas na escolha de caminhos que acessam parte do todo pré-existente e paradoxalmente, ao segui-lo, o usuário não constrói uma identidade única, mas adota identidades preestabelecidas pelo primeiro autor da obra. A interatividade se realiza entre a coletividade dos espectadores por meio da obrae desta maneira, sons, gestos, textos e imagens se increvem na memória da obra cuja identidade muda e evolui infinitamente, tanto queiram quem dela participar.



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